Ratinho leva Eduardo Campos (PSB-PE) até a saída do estúdio do
seu programa no SBT, após entrevistar o governador de Pernambuco, e
volta ao camarim. Prepara-se para retornar ao palco e mediar a briga dos
participantes de mais um Teste de DNA.
"Ele [Campos] é uma novidade boa. É um cara de decisão, já provou
ser bom administrador. Está pronto para ser presidente. O Aécio [Neves]
também", diz. Sua atração noturna, antes território exclusivo de
anônimos e artistas populares, passou a abrir espaço para personalidades
públicas e figuras polêmicas, no quadro semanal Dois Dedos de Prosa
--ou "Dois Dedos de Próstata", como brinca com a equipe.
"Trago alguém que tem alguma coisa para falar. É para dar
audiência e atrair um público que não está habituado ao programa", diz
Ratinho ao repórter Joelmir Tavares.
Em meio a debates sobre homofobia, recebeu os deputados Marco
Feliciano (PSC-SP) e Jean Wyllys (PCdoB-RJ) e o pastor Silas Malafaia. E
não escolhe partido: convida do governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP)
aos ministros Alexandre Padilha (PT-SP) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP).
Os presidenciáveis Aécio Neves (PSDB-MG) e Marina Silva (sem
partido) também ficaram de frente com Carlos Massa. "Meu programa tem a
obrigação de politiquizar... poli... Não consigo falar essa palavra [a
assessora o ajuda]. Politizar melhor a população. Não tem só a Dilma
[Rousseff] de candidata."
Ratinho, que foi vereador no Paraná e deputado federal antes de
estrear na TV, em 1996, tem ligação umbilical com a política. Seu filho
mais velho, Ratinho Júnior (PSC-PR), segundo colocado na disputa pela
Prefeitura de Curitiba em 2012 e secretário de Beto Richa (PSDB-PR),
aparece bem nas pesquisas para o governo estadual em 2014.
"Ele não é candidato", sentencia o pai. "Sou eu que pago as
contas. E não vou dar dinheiro nem vou me envolver em campanha para
governador. Tenho meus negócios para cuidar." Mas confirma que o
herdeiro tentará ser deputado estadual ou federal. Se a popularidade
paterna ajuda? "Sou polêmico. Metade gosta, metade odeia."
Ratinho é daqueles que amam o ex-presidente Lula, de quem se diz
amigo. "Meu assunto com ele é falar de bobagem, de pescaria, de futebol.
Não toco em política."
Acredita ter isenção para entrevistar qualquer pessoa. "Não
misturo as coisas." Defende rotatividade no poder. "Não sou esquerda nem
direita. O PT já ficou dez anos. Pode até ganhar de novo. Mas sou
contra essa ideia de que está todo mundo do mesmo lado, sabe? Senão
temos o risco de virar uma Venezuela."
A participação de Lula e Fernando Haddad (PT-SP) no programa, a
quatro meses do primeiro turno em 2012, rendeu multa de R$ 10 mil da
Justiça Eleitoral, por propaganda antecipada. "Paguei. O Lula era meu
convidado e me avisou dois dias antes: 'Posso levar o Haddad?'. Como é
que eu digo: 'Não, não pode'? Na minha cabeça, não teria problema. Agora
sei que não pode falar que é candidato."
Declara-se eleitor de Lula e Dilma, mas ainda não sabe em quem
votar em 2014. Considera o julgamento do mensalão "correto" e diz que o
Bolsa Família "já dá ao candidato do PT 40 milhões de votos, do povo
pobre". Descarta retornar à política. "Sou um bom apresentador. Mas fui
um deputado medíocre. Se voltasse, seria um ditador. Ia brigar com
metade do Brasil."
Aos 57 anos ("parece 40, né?"), Ratinho oscila entre o segundo e o terceiro lugar em audiência, com média de 7 pontos e picos de 10.
No SBT, é sócio da atração. Gastos com produção e lucros com
merchandising são divididos com Silvio Santos ("a melhor pessoa que tem
no mundo"). Não revelam valores do contrato, que vai até 2015. Amanhã o
canal fará programa especial para festejar 15 anos de Ratinho na casa.
Ele, que ficou "chateado" por passar oito meses fora do ar, em 2006,
hoje está feliz.
O mesmo Carlos Massa que mexe os braços, fala alto e pontua
frases com palavrões no camarim é o Ratinho que entra no palco e faz as
130 pessoas da plateia bater palmas e cantar. "O programa é um circo."
Divide a cena com pelo menos dez humoristas --um deles, Marquito, virou
vereador em São Paulo, pelo PTB, com 22 mil votos.
O programa, famoso por explorar barracos e bizarrices, agora tem
quadros de comédia, concursos de talentos e jogos. "Meu público hoje é
bem inteligente." Aposentou o cassetete, mas não se arrepende do
sensacionalismo. "Quem tem que dar cultura não é a TV, porra. É a
escola!"
Ele mantém o Teste de DNA --que é gravado para corte de palavrões
e pancadaria entre participantes interessados em esclarecer casos de
paternidade-- porque ainda não encontrou "outra coisa que dê tanta
audiência". Ratinho intervém em momentos tensos. Um segurança já saiu da
gravação com a orelha vermelha, após separar uma briga.
Em sua defesa, o apresentador diz que os advogados do quadro
ajudam as famílias. "Quando o camarada chega aqui, já brigou com todo
mundo." As noites de quarta são de encontros musicais. "Coloca aí: a
Regina Casé me copiou", ri, citando o dominical "Esquenta!", da Globo.
Diz que o canal concorrente acertou ao "bregar" em busca de audiência
das classes C e D.
No camarim com imagens de Nossa Senhora, o animador diz que é
cedo para fazer cirurgia plástica. "Não sou vaidoso. Só passo uma
tintinha no cabelo e no bigode. Já fiz um negócio de laser lá para tirar
a papada."
É dono de cinco afiliadas do SBT no Paraná, rádios, fazenda e
hotel. "Poderia fazer como o Faustão: pegar o dinheiro, pôr no banco e
tocar a vida. Mas faço como o Silvio. Dou empregos, tento crescer. Não é
só usufruir no Brasil, mas aplicar nele também."
Tem um avião para ir a Curitiba, onde a família mora, embora
afirme levar uma vida simples. "Saí da pobreza, mas ela não saiu de
mim." Ao mesmo tempo que diz não ter nascido para o luxo, ele sabe como
quer morrer. "Na TV. Fazendo palhaçada."