23 de abril de 2010

Entrevista com João Acalabe,Pimpinoni de “Uma Rosa com Amor”


João Acaiabe traz na sua trajetória personagens variados e marcantes. Interpretou desde Jesus Cristo negro idealizado por Plínio Marcos, na peça “Jesus homem” (1980), até o simpático Tio Barnabé, na segunda versão do “Sítio do Picapau Amarelo” (2006). Já sofreu preconceito racial e hoje atua no elenco do SBT.

Confira abaixo entrevista que o ator João Acaiabe, o Pimpinoni da novela “Uma Rosa com Amor”, concedeu com exclusividade a Carla Soltanovitch, do NaTelinha:

“As oportunidades para atores negros ainda são mínimas, se não fosse isso teríamos ótimos profissionais trabalhando”

Você é um artista que acompanha gerações. Os adultos na faixa dos 30 anos cresceram ouvindo suas histórias no Bambalalão, já as crianças de hoje adoraram sua participação no Sitio do Picapau Amarelo. Qual é o segredo para agradar tanto em épocas tão distintas?


João Acaiabe:
Gosto da ideia de agradar. A gente nunca sabe a reação do público, porém faço tudo com muito amor e alegria buscando sempre a verdade. Já são quarenta anos de profissão, que completei em 8/4/2010. Sinto uma grande felicidade em sobreviver do meu oficio. Em qualquer profissão você deve dar o melhor de si, buscar sempre ampliar horizontes e melhorar como ser humano.

Como surgiu o convite para integrar o elenco da novela Uma Rosa com Amor, exibida pelo SBT?


JA
: Na verdade, quem sugeriu o meu nome foi o próprio autor da versão original Vicento Sesso. E o diretor da novela Del Rangel aprovou. Mas, o convite mesmo partiu da produtora de elenco Tina Pacheco. Fiquei muito feliz, as oportunidades para atores negros ainda são mínimas, se não fosse isso teríamos ótimos profissionais trabalhando.


Seu personagem na trama, o Pimpinoni, usa um boneco que filosofa. Ele é fruto do roteiro, ou você tem autonomia para criar suas falas?


JA:
O meu boneco é o Arlequim, que já virou um personagem e está no roteiro criado pelo autor. Para desenvolver uma cumplicidade com ele, troquei várias ideias com a equipe da novela. Tento ao máximo colocar emoção nas falas, por isso conto com a ajuda de alguns bonequeiros para encontrar o tom de voz certo. Tenho excelentes professores que me ensinam a movimentar e dar vida ao Arlequim: o Edu dos bonecos e a Naná. Por sinal, foi ela que construiu o Arlequim (a Naná cresceu me vendo no Bambalalão na TV Cultura).

Na trama original, que foi ao ar pela Rede Globo em 1972, o Pimpinoni era vivido por Grande Otelo. Você se baseou nele em algum momento para compor o personagem?

JA: No início vi muita coisa do Grande Otelo e estudei bastante. Eu estava assustado com um personagem tão maravilhoso e não queria perder a oportunidade. Meus colegas de elenco como a Carla Marins, Jussara Freire, Nilton Bicudo, Etti Fraser, Lucia Alves, me ajudaram… enfim o pessoal do cortiço me ajudou muito. Com bastante profissionalismo e amor o Pimpinoni foi nascendo. Agora eu só peço ao Grande Otelo que me inspire, pois o Sesso contou que ele foi um verdadeiro sucesso neste trabalho.

Na sua trajetória profissional qual a maior alegria, e mágoa, que nunca esqueceu?

JA: A maior alegria estou tendo agora. Estou pleno e minha carreira cresce a cada dia. Espero melhorar como artista e sobretudo como ser humano, pois é para isso que estamos aqui. Mágoa, mágoa? Prefiro não pensar nisso… já foi, e eu aprendo com todas as minhas experiências.

Você já teve ‘portas fechadas’ por preconceito racial?


JA:
Fui expulso de um clube no interior de São Paulo na minha cidade natal (Espírito Santo do Pinhal). Fui proibido de nadar em uma piscina municipal e impedido de entrar em um outro clube (Esporte Clube Comercial), na mesma cidade. Há uns 3 anos, a nova geração da lá me prestou homenagens. Nem tudo está perdido!

A sua imagem nos transmite doçura. Você nos passa credibilidade, seja em cima ou fora do palco. Já usou dessa força para levantar alguma bandeira?

JA: Não, mas não deixa de ser uma boa ideia. Tenho usado meu trabalho, minha profissão, em função da igualdade racial. Não posso fazer vista grossa diante desta pseudo-democracia racial. Nelson Mandela disse: “Não nascemos odiando, nós aprendemos a odiar, e se aprendemos a odiar, certamente podemos aprender a amar”. Olhe o seu próximo.


O elenco do Bambalalão, programa infantil exibido na década de 80 pela TV Cultura, teve um sucesso absoluto na época, mas com o término da atração os artistas sumiram da mídia. O que houve? Você ainda tem contato com algum deles?


JA:
Não sei bem o que aconteceu, o elenco era ótimo e ainda podemos vê-los na TV Rá Tim Bum, após às 23h. Falo bastante com a Gigi [Anhelli] que tem um programa na internet, tenho contato também com a Silvana [Teixeira] que faz teatro, e outros faleceram como o Chiquinho Brandão, Gerson de Abreu e o Carlinhos-bambalarino. O Bahia faz a novela comigo, e assim vai… Eu vejo muito a TV Rá Tim Bum e mato a saudade.


Você, que tem muita experiência em trabalhos com crianças, o que acha dessa polêmica sobre personagens infantis malvados?


JA:
Não tenho ainda uma opinião formada. Na dúvida é melhor não valorizar um personagem desse tipo. O público tende a se identificar com o que assiste, por isso é importante a presença de atores de várias etnias e muita atenção aos programas infantis.


A profissão trouxe riqueza material para o João Acaiabe?


JA:
Eu vivo da minha profissão e vivo modestamente, vivo como posso e amo minha vida.

Ping-Pong:

Nome completo: João Batista Acaiabe

Casado? Sim, casado e muito bem. Tenho dois filhos maravilhosos, Carlos e Thays, além de três enteados sensacionais, Erika, Ricardo e Wilson

Cidade: Onde meu coração estiver

Time: Corinthians

Música: Deixe eu dizer que te amo.

Livro: Figurinha Dificil, do Plinio Marcos

Animais: Os que povoam o planeta

Religião: Eu rezo para Deus

Ainda falta acontecer: A igualdade racial, naturalmente

N.T.

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