A mudança deu certo e causou um rebuliço local. No entanto, Giuliano acabou voltando para a Record e o desafio era manter o formato sem a tradicional bancada. Para isso, o SBT fechou com Hussem Ramadam, vindo de um programa de varejo, mas foi com Orlando Pesoti que o programa estourou de dois anos para cá.
Segundo dados do Ibope que compreendem o período de 22 a 28 de maio de 2013, a audiência do “Noticidade” foi de 1,95 ponto, quando ainda estava havendo a transição de apresentadores. E, um ano depois, numa outra pesquisa do instituto, de 05 de junho a 11 de junho de 2014, os resultados apontaram a atração de Orlando Pesoti com 5,75 pontos, quase o triplo. Do quarto ao segundo lugar em pouco mais de um ano.
As pesquisas na região não são em tempo real e acontecem semestralmente, mas a última não foi comprada pelo SBT, tampouco divulgada por seus concorrentes.
Para quem não sabe, o SBT Ribeirão Preto cobre 85 cidades do interior de São Paulo e é uma das sete filiadas da rede. Ou seja, estações próprias. As outras estão no Rio de Janeiro, Nova Friburgo, Porto Alegre, Brasília, Belém e Jaú.
Início
Orlando começou fazendo reportagens para o SBT e sempre deixou claro o desejo de comandar o programa. Houve um primeiro teste quando Giuliano Marcos, em 2011, deixou a atração, mas não obteve êxito. “Fiz o teste, mas não me saí bem. Não houve aceitação, e eu não estava preparado para assumir. Até mesmo a Veruska disse que eu não tinha um perfil para eu apresentar”.
Veruska Schereiber está à frente da Mercado Filmagens com sua irmã Erika, que produz o “Noticidade”, e confirma o que diz seu pupilo. “Ele era muito tímido. Extremamente introvertido. Ele teve uma projeção enorme. Tinha uma cara de menino. Nem parece que é o Orlando que agora berra no ar”, diz.
Da bancada à informalidade
Editor-chefe do “Noticidade”, Valmir Bononi foi para o SBT em 2010 e já tinha a ideia de mudar a linha do jornal para algo mais informal. Ele relembra como as coisas se encaixaram e aconteceram da maneira certa.
“Eu vim pra cá em 2010 e queria fazer alguma coisa diferente, e cheguei com essa ideia, e logo que eu cheguei, a apresentadora, que era a Isadora Coelho, estava saindo. Pensei que talvez fosse uma oportunidade de mudar de formato. E nessa época, coincidentemente, o Giuliano Marcos me liga, dizendo que algumas mudanças na Record não o agradaram. E foi aí que perguntei se ele iria para o SBT, se ele faria o ‘Noticidade’. Ele aceitou, gostou da ideia. Parecia uma coisa ilógica, mas ele veio”, orgulha-se.
A relação com o SBT de São Paulo
Orlando relata que o contato com a matriz, em São Paulo, existe e é bastante positivo. Nos últimos meses, o apresentador foi à capital assistir a programas como o “The Noite” e o “Programa do Ratinho”. “A gente tem um contato diretamente no jornalismo, por exemplo, bem bacana. Já mandamos material pra eles. O Marcelo Parada (diretor de Jornalismo) sabe do trabalho que é feito aqui, das paródias que faço. Já fui lá, conversei com ele, existe essa troca”, diz.
Paródias e as causas do sucesso
Há um ano e meio, Orlando faz no primeiro bloco do jornal uma série de personagens para satirizar determinadas situações do país e do cotidiano. Neste tempo, foram exatamente 371 paródias caracterizadas e uma aceitação imediata do público, que viu o apresentador contracenar com o Tatu, parecido com o mascote da Copa do Mundo 2014 realizado no Brasil.
Com a novidade, o programa, que começa às 11h40, passou a fazer sucesso com o público infantil e a ganhar a criançada. No entanto, Orlando cita um outro ponto para a alavancada no Ibope: a aproximação com o público. “Acredito que seja a aproximação com o público (causa do sucesso), falar com quem está em casa. Não é só uma coisa morna, dá a notícia e acabou. E a questão de brincar e tirar sarro, sem levar tudo a ferro e fogo. A pessoa que está em casa sente isso”, diz.
E prossegue: “Hoje o povo não dá risada. Só notícias violentas, morte, acidente, a pessoa em casa fica tensa. E quando a gente mostra desgraça, quando o namorado esfaqueou a namorada, a gente vem com outro discurso, incentiva. As pessoas te sentem mais humano e mais próximo”.
Ausência de Ibope no interior
Diferentemente das capitais, Ribeirão Preto não conta com o mesmo método de pesquisa do Ibope, que acontece semestralmente. Tampouco existe o minuto-a-minuto para que os programas ao vivo possam se basear. Logo, os termômetros para continuar ou interromper uma pauta são outros.
Para Orlando, as redes sociais são fundamentais. “Primeiro, a gente vê pelo Whatsapp. Às vezes estamos com algum assunto e aí começa a render assunto nos comentários, o telefone começa a tocar e a gente vê que o assunto está rendendo. Eu sinto aquilo que está agradando e aquilo que não está. Eu acompanho muito o 'Noticidade' como telespectador. A gente sente”.
Questionado sobre como seria se existisse a medição minuto-a-minuto, o apresentador é direto e arrisca a dizer que seu programa seria líder na região. “Ajudaria muito (se houvesse o Ibope em tempo real). E se tivesse minuto a minuto, não só em Ribeirão Preto, mas se houvesse uma pesquisa real de toda a região, os resultados seriam diferentes dos de hoje. Se pegarmos a região, uma pesquisa verdadeira, com peoplemeter, tenho certeza que o ‘Noticidade’ seria o primeiro lugar”, sentencia.
Equipe enxuta
O “Noticidade” tem apenas uma equipe composta por 10 pessoas. Para fechar um jornal com mais de 40 minutos, Orlando não pensa duas vezes quando perguntado o que os motiva para matar um leão por dia com uma redação enxuta: “É paixão. Sabe por quê? Hoje somos uma equipe pequena. Fazemos o que fazemos por paixão. Às vezes você não está no seu horário de trabalho, faz um vídeo, alguma coisa para complementar o jornal do outro dia. Temos muita vontade e paixão”.
Liberdade editorial
Uma das coisas que mais agradam Orlando dentro do SBT é a liberdade que tem em falar o que pensa. E afirma que nunca sofreu qualquer tipo de censura, seja ela prévia ou posterior. “Nunca houve nada disso. Tudo ficou bem claro entre mim, a Veruska, e o Maurício Abravanel, que é superintendente do SBT. O que está errado, tem que mostrar”.
Ditando tendências e inspiração
Quando algum produto começa a fazer sucesso, os concorrentes logo começam a se “inspirar” ou simplesmente copiar sem a menor cerimônia. Orlando explica que sentiu algo parecido na região, sem citar quais concorrentes tiveram o “Noticidade” como “inspiração”. “Me senti copiado da seguinte forma: quando começamos com esse jornalismo mais livre, com paródias, percebemos que outros programas começaram a fazer isso também”.
Sobre sua inspiração, ele revela admirar Datena: “Gosto muito do Datena. Eu estudei com a filha dele, a Letícia, e eu assistia muito ele. E queria ser assim. Mas, não achava que seria capaz de ser igual o Datena. Quando vim pro ‘Noticidade’, buscava alguém pra ser referência, mas não tinha que imitar Datena, Rezende, e fui me descobrindo. Ou melhor, me redescobrindo”.
Hoje, a equipe faz questão de dizer que o “Noticidade” não é um telejornal, até por não fazer o uso de bancada, e sim um programa variado. Com isso, houve a inclusão de ações de merchandising e para Orlando, jornalismo e publicidade caminham lado a lado.
“Quando saí da faculdade, pensava que o jornalismo andava de um lado e a publicidade de outro. Hoje, acredito que os dois se misturam, porque se quer levar um produto de qualidade ao ar, precisa ter um retorno financeiro pra isso. Quem paga o salário do jornalismo é a publicidade, é o que a emissora vende. Quem trabalha num supermercado, e ele não vender, não recebe. Comecei a aprender que dependo da publicidade. E os anunciantes dependem de mim. Se ofereço um bom produto, querem comprar um bom produto meu. É claro que se amanhã algum anunciante fizer alguma sacanagem, não vamos deixar de falar. Eu uso e recomendo, e nunca tive problema com nenhum anunciante”, comenta.
Para fechar, Orlando Pesoti manda um recado a seus telespectadores nos 85 municípios que o SBT Ribeirão Preto chega: “Sempre podem contar com a gente. Somos um programa livre, independente. Quem se sente lesado com o poder público, ou algo que acontece na comunidade e sociedade, de uma forma ou outra, pode contar com a gente. Vamos atrás do político, de quem deixou de fazer, deixou de atender, não temos medo da cobrança”.
Fonte Natelinha