O jornalista Roberto Cabrini cobriu
guerras, apresentou programa policial e protagonizou diversos furos
jornalísticos. Hoje se dedica ao que ele intitula enfaticamente de um
jornalismo que “se inspira pela luta dos direitos humanos”. Apresentador
e editor-chefe do “Conexão Repórter”, no SBT, Cabrini está entre os
profissionais de imprensa mais premiados do país, mas também entre os
mais polêmicos.
Em entrevista ele reforça a tese de que jornalismo é
investigativo por essência. Entretanto, o uso do termo é empregado
quando uma apuração mais aprofundada se destaca em meio a um jornalismo –
praticado diariamente – "tendencioso, unilateral e superficial'.
Mesmo com a exposição de sua imagem,
Cabrini mergulha nas apurações. Seja em matérias que mostram pastores
acusados de assédio, cartomantes mercenárias ou grupos nazistas, o
jornalista está na rua em busca de uma boa história. Elemento que para
ele, independente da época, continuará sendo o melhor ingrediente do
jornalismo.
Você se define como jornalista investigativo?
Roberto Cabrini -
Sem dúvida. Em tese, todo jornalismo deveria ser investigativo, porém
existem tantos exemplos de jornalismo oficial, unilateral, tendencioso,
raso ou superficial que se convencionou denominar de investigativo
aquele que é praticado com mais profundidade. Minha principal inspiração
é a luta intransigente pelos direitos humanos: defender as minorias, os
discriminados, os desassistidos, os injustiçados, os esquecidos. É o
que me move e sempre com apurações independentes.
É possível fazer jornalismo investigativo na TV mesmo sendo conhecido?
É possível fazer jornalismo investigativo na TV mesmo sendo conhecido?
Com certeza é possível, mas requer
método e uma equipe treinada e conscientizada. É preciso identificar o
momento de apurar, filmar, e documentar incognitamente e o momento de
conseguir informações decisivas por meio de entrevistas feitas com
sensibilidade e estratégia.
Você tem total liberdade em suas apurações?
Em qualquer veículo de comunicação, em
qualquer parte do mundo, o jornalista vai enfrentar algum tipo de
restrição em algum momento. Isso, entretanto, não pode servir como
desculpa. Cabe ao jornalista resistir. Penso que a pior forma de censura
é a da autocensura. Já presenciei situações em que o próprio repórter
deixa de investigar fatos por atuar com o pressuposto de que vai ser
cerceado. É preciso ter sabedoria, mas também é necessário ousar,
avançar.
Você
já cobriu guerras, grandes acontecimentos e agora se dedica a um
jornalismo de denúncia. Esse tipo de jornalismo recebe o espaço devido
no Brasil?
Analisando o cenário brasileiro ainda
falta muito, mas não se pode esmorecer. A excelência tem que ser
perseguida todos os dias sem acomodação. Vejo exemplos de ótimo
jornalismo em vários veículos brasileiros. Aqui no “Conexão Repórter”
temos uma equipe aguerrida. Atuamos com bastante liberdade e os
resultados estão aparecendo. Já ganhamos vários prêmios importantes,
provocamos a realização de diversas CPI’s e nossas reportagens chegaram a
repercutir nos principais veículos do mundo como o New York Times, a CNN, o Le Monde e o El País. Um incentivo que tem que ser aquecido com nossa eterna inquietação.
As novas tecnologias exigem algum tipo de alteração em sua dinâmica de apuração?
A moderna tecnologia torna o
telejornalismo muito mais ágil, porém menos reflexivo. Quando comecei
vivíamos tempos sem Google, computadores, ou internet. O jornalismo era
em velhas máquinas de escrever feito também nas mesas de bar, na boêmia,
entre gargalhadas altas e abraços que uniam até concorrentes
transformados em parceiros de noitadas sem fim que, muitas vezes, juntos
procuravam a melhor forma de driblar a censura governamental. Hoje com a
comunicação online, redes sociais e a geração instantânea de imagens e
sons, o jornalismo adquiriu uma nova cara. Não tem o romantismo de
outros tempos e tende a ser mais rápido e solitário. Mesmo assim, no
fundo nunca algo mudou tanto para continuar a mesma coisa de sempre. Com
ou sem tecnologia, com ou sem censura, a receita da boa reportagem
ainda depende muito do bom e velho contador de histórias.
Fonte Portal Imprensa