O público infantil se tornou a galinha dos ovos de ouro para o SBT. Com o sucesso de Carrossel,
a emissora comprovou que investir nas crianças pode ser bem lucrativo.
Não tanto pelo crescimento na audiência – que registra a boa média de 15
pontos. Mas, principalmente, pelas possibilidades comerciais que a
trama abriu com produtos licenciados. E Chiquititas, que
estreou no último dia 15 de junho, segue a mesma linha. Também adaptada
por Íris Abravanel, a novela deixa claro, logo nos primeiros instantes,
que o canal de Silvio Santos aposta alto no folhetim. O que fica ainda
mais evidente pelo cuidado que a produção demonstra com a cenografia.
Todos os ambientes em estúdio são detalhadamente pensados. O quarto das
meninas é repleto de cores e mobílias divertidas, bem do jeito que
muitas crianças gostariam de ter. Igualmente belo é o Café Boutique, com
decoração e tons harmoniosos.
O que contrasta com o equilíbrio cenográfico, no
entanto, é a atuação. As atrizes mirins do orfanato em que se passa a
maior parte da história, de uma maneira geral, não têm naturalidade.
Volta e meia, falam com um injustificado "sorriso de orelha a orelha".
Não é porque são crianças que não precisam convencer em suas
interpretações. Fica a impressão de que o SBT estava com tanta pressa de
colocar no ar mais uma novela para o público infantil que não teve
tempo de fazer uma seleção criteriosa do elenco. Mesmo assim, os
pequenos são carismáticos a seu modo. O que parece ser a vantagem de se
trabalhar com criança: apesar de deixarem a desejar em aspectos
técnicos, elas continuam bonitinhas. Mas justamente essa falta de esmero
com as atuações pode ser um empecilho para que a novela atinja um
público mais abrangente. Como, por exemplo, as mães, que provavelmente
não terão paciência para assistir à trama ao lado de seus filhos.
Já o mau desempenho de parte do núcleo adulto não pode
se esconder atrás da pouca idade ou jeitinho meigo. Talvez por ainda
estar no início dos trabalhos, alguns não tenham encontrado o tom de
seus personagens, como Guilherme Boury. Na pele de Júnior, o ator se
mostra um pouco travado. Mas, apesar de carioca, apresenta um sotaque
paulistano condizente com o papel. O que demonstra sua dedicação com o
atual trabalho. Manuela do Monte como a mocinha Carolina está correta,
sem muitas ousadias. O grande trunfo da novela parece ser Carla Fiorini,
que vive Ernestina. Interpretando a temida inspetora do orfanato, a
atriz consegue equilibrar a comicidade da personagem com a função de
vilã entre as crianças.