Mineiro de Belo Horizonte, o
jornalista e escritor Alberto Villas foi para a Paris em 1973 e
formou-se no Institut Français de Presse. Retornou ao Brasil em 1980,
para trabalhar na editoria internacional do Estadão e também foi
responsável pela reformulação do Caderno 2. Teve seu primeiro contato
com a televisão montando o "Jornal de Vanguarda" na Band; passou pelo
SBT, nos tempos de "Aqui Agora", e foi para a Globo. Após ter trabalhado
nos principais jornais da emissora carioca, dirigiu o "Fantástico",
onde permaneceu por 12 anos até aceitar o convite do SBT, para comandar o
jornalismo, em abril deste ano.
Muito apegado ao texto impresso, ele
destaca que tinha preconceito com a televisão. "Quando eu trabalhava em
jornal, nunca passou pela minha cabeça estar na televisão; eu era contra
a TV". Anos depois, o jornalista diz ter caído na real e percebido que
os jornais impressos já iam para as bancas, com notícias velhas. Em
entrevista à IMPRENSA, de sua sala na sede da emissora, Villas fala
sobre o desafio que assumiu ao aceitar o convite, compara as estruturas
do SBT com a Globo e deixa claro que sua atual emissora estimula a
criatividade e o trabalho.
IMPRENSA - Pode falar um pouco dos seus primeiros meses no SBT?
Alberto Villas - Eu sempre brinco que, aqui no SBT, nós somos guerrilheiros; lá na Globo, eu me sentia um mariner
americano, com todo aparato e estrutura disponível. Aqui é uma
guerrilha, não pelo fato de não termos condições, mas é que a Globo está
há décadas no ar e tem uma baita estrutura. Lá eu me sentia muito
confortável, já aqui, para ser guerrilheiro, tem que ser criativo, caso o
contrário, você sempre vai fazer uma coisa mais pobre.
IMPRENSA - Por qual motivo você decidiu deixar o conforto que tinha na Globo?
Villas -
Quando eu fui chamado para assumir a direção de jornalismo do SBT vivia
duas situações: estava muito confortável, como já disse, e poderia
ficar lá mais cinco anos e me aposentar. Aceitei porque percebi que
tinha, nas mãos, um novo desafio que me motivou profissionalmente.
IMPRENSA - Qual era esse desafio?
Villas - O
jornalismo do SBT é bom, só que ele andou meio esquecido. Por outro
lado, a Record avançou e investiu muito no jornalismo. Hoje, a pessoa
quer ver uma notícia e diz 'liga aí na Globo ou na Record para ver'. Meu
objetivo é fazer com que o brasileiro inclua o SBT nessa frase. O
problema do Brasil é que o povo é muito conservador. Você tem um leitor
de Veja que ainda não sabe que existe uma revista chamada Época,
não por que não gosta, mas porque está acostumado e não quer mudar.
Quero chegar a um ponto em que as pessoas saibam quem são os
apresentadores dos nossos telejornais, que possam chamar pelo nome.
IMPRENSA - Como fazer isso em um momento que o telejornalismo está pasteurizado?
Villas -
Concorremos com quatro telejornais em horários parecidos: Gazeta, Band,
Record e, depois, Cultura e RedeTV!. Eu vim determinado a fazer um
jornal que ultrapasse só a cobertura de fatos do dia e busque formas
diferente de dar a notícia. Claro, não posso fugir do factual, mas
podemos dar de forma mais inteligente e criativa.
IMPRENSA - E qual tem sido a receita para fazer algo diferente?
Villas - No
dia mundial sem carro, nossa repórter saiu com um automóvel e foi
oferecer carona para as pessoas. Percebemos que, ao invés de fazer uma
matéria normal e clichê, poderíamos fazer algo diferenciado. Quando a
Dilma fez um discurso sobre a classe C, trouxemos representantes de
vários perfis desta classe para nossos estúdios, com o objetivo de
comentar o discurso da presidente e se eles concordavam ou discordavam.
IMPRENSA - Você já conseguiu tirar a formalidade da bancada?
Villas - Precisamos melhorar muito. As pessoas querem algo diferente, um apresentador que fique mais tranquilo...
IMPRENSA - Que tipo de cuidado deve ser tomado nesse processo de tirar a formalidade?
Villas - O
excesso é prejudicial, fica aquela coisa um pouco caseira... Deve haver
equilíbrio e uma dose certa para a pessoa perceber que a informação
está ali e que o apresentador está mais a vontade. Estamos tentando
fazer um jornal bem coloquial.
IMPRENSA - Como o jornalismo do SBT se beneficia com o crescimento da classe C?
Villas -
Eu participei na Globo de várias palestras sobre a explosão da classe C
e o SBT sempre teve a cara dessa classe C. Aqui, na emissora, eu tenho
um laboratório fantástico porque quando vou até a praça de alimentação
vejo são as pessoas que vêm assistir esses programas e vemos que elas
estão melhorando de vida. Temos aqui dentro um grande laboratório. Hoje,
nós fazemos um exercício, que é enviar, semanalmente, uma pessoa da
nossa redação para qualquer bairro de São Paulo e ver o que está
acontecendo na cidade. Numa dessas oportunidades, a produtora descobriu
uma lavanderia comunitária. Isso enriquece muito o jornalismo.
IMPRENSA - Percebo que o jornalismo das praças regionais do SBT é forte. Como elas estão contribuindo para a rede?
Villas -
Estamos, a cada dia, tentando uma comunicação maior com as praças.
Muitas vezes sofremos com aquele pensamento de que 'não vou mandar
matéria porque eles não darão nunca', mas estamos nos comunicando, para
mostrar para essas praças que elas podem fazer matérias que saiam do
lugar comum. Brasília não faz só política, mas ela pode fazer uma
matéria sobre bulas de remédios, por exemplo. Estamos estimulando as
afiliadas para que façam isso.