27 de setembro de 2011

"Na Globo, eu me sentia um mariner; no SBT, faço trabalho de guerrilha", diz Alberto Villas

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Mineiro de Belo Horizonte, o jornalista e escritor Alberto Villas foi para a Paris em 1973 e formou-se no Institut Français de Presse. Retornou ao Brasil em 1980, para trabalhar na editoria internacional do Estadão e também foi responsável pela reformulação do Caderno 2. Teve seu primeiro contato com a televisão montando o "Jornal de Vanguarda" na Band; passou pelo SBT, nos tempos de "Aqui Agora", e foi para a Globo. Após ter trabalhado nos principais jornais da emissora carioca, dirigiu o  "Fantástico", onde permaneceu por 12 anos até aceitar o convite do SBT, para comandar o jornalismo, em abril deste ano.  

Muito apegado ao texto impresso, ele destaca que tinha preconceito com a televisão. "Quando eu trabalhava em jornal, nunca passou pela minha cabeça estar na televisão; eu era contra a TV". Anos depois, o jornalista diz ter caído na real e percebido que os jornais impressos já iam para as bancas, com notícias velhas. Em entrevista à IMPRENSA, de sua sala na sede da emissora, Villas fala sobre o desafio que assumiu ao aceitar o convite, compara as estruturas do SBT com a Globo e deixa claro que sua atual emissora estimula a criatividade e o trabalho.

IMPRENSA - Pode falar um pouco dos seus primeiros meses no SBT?
Alberto Villas - Eu sempre brinco que, aqui no SBT, nós somos guerrilheiros; lá na Globo, eu me sentia um mariner americano, com todo aparato e estrutura disponível. Aqui é uma guerrilha, não pelo fato de não termos condições, mas é que a Globo está há décadas no ar e tem uma baita estrutura. Lá eu me sentia muito confortável, já aqui, para ser guerrilheiro, tem que ser criativo, caso o contrário, você sempre vai fazer uma coisa mais pobre. 

IMPRENSA - Por qual motivo você decidiu deixar o conforto que tinha na Globo?
Villas - Quando eu fui chamado para assumir a direção de jornalismo do SBT vivia duas situações: estava muito confortável, como já disse, e poderia ficar lá mais cinco anos e me aposentar. Aceitei porque percebi que tinha, nas mãos, um novo desafio que me motivou profissionalmente.

IMPRENSA - Qual era esse desafio?
Villas - O jornalismo do SBT é bom, só que ele andou meio esquecido. Por outro lado, a Record avançou e investiu muito no jornalismo. Hoje, a pessoa quer ver uma notícia e diz 'liga aí na Globo ou na Record para ver'. Meu objetivo é fazer com que o brasileiro inclua o SBT nessa frase. O problema do Brasil é que o povo é muito conservador. Você tem um leitor de Veja que ainda não sabe que existe uma revista chamada Época, não por que não gosta, mas porque está acostumado e não quer mudar. Quero chegar a um ponto em que as pessoas saibam quem são os apresentadores dos nossos telejornais, que possam chamar pelo nome. 

IMPRENSA - Como fazer isso em um momento que o telejornalismo está pasteurizado?
Villas - Concorremos com quatro telejornais em horários parecidos: Gazeta, Band, Record e, depois, Cultura e RedeTV!. Eu vim determinado a fazer um jornal que ultrapasse só a cobertura de fatos do dia e busque formas diferente de dar a notícia. Claro, não posso fugir do factual, mas podemos dar de forma mais inteligente e criativa. 

IMPRENSA - E qual tem sido a receita para fazer algo diferente?
Villas - No dia mundial sem carro, nossa repórter saiu com um automóvel e foi oferecer carona para as pessoas. Percebemos que, ao invés de fazer uma matéria normal e clichê, poderíamos fazer algo diferenciado. Quando a Dilma fez um discurso sobre a classe C, trouxemos representantes de vários perfis desta classe para nossos estúdios, com o objetivo de comentar o discurso da presidente e se eles concordavam ou discordavam.

IMPRENSA - Você já conseguiu tirar a formalidade da bancada?
Villas - Precisamos melhorar muito. As pessoas querem algo diferente, um apresentador que fique mais tranquilo...

IMPRENSA - Que tipo de cuidado deve ser tomado nesse processo de tirar a formalidade?
Villas - O excesso é prejudicial, fica aquela coisa um pouco caseira... Deve haver equilíbrio e uma dose certa para a pessoa perceber que a informação está ali e que o apresentador está mais a vontade. Estamos tentando fazer um jornal bem coloquial.

IMPRENSA - Como o jornalismo do SBT se beneficia com o crescimento da classe C?
Villas - Eu participei na Globo de várias palestras sobre a explosão da classe C e o SBT sempre teve a cara dessa classe C. Aqui, na emissora, eu tenho um laboratório fantástico porque quando vou até a praça de alimentação vejo são as pessoas que vêm assistir esses programas e vemos que elas estão melhorando de vida. Temos aqui dentro um grande laboratório. Hoje, nós fazemos um exercício, que é enviar, semanalmente, uma pessoa da nossa redação para qualquer bairro de São Paulo e ver o que está acontecendo na cidade. Numa dessas oportunidades, a produtora descobriu uma lavanderia comunitária. Isso enriquece muito o jornalismo. 

IMPRENSA - Percebo que o jornalismo das praças regionais do SBT é forte. Como elas estão contribuindo para a rede?
Villas - Estamos, a cada dia, tentando uma comunicação maior com as praças. Muitas vezes sofremos com aquele pensamento de que 'não vou mandar matéria porque eles não darão nunca', mas estamos nos comunicando, para mostrar para essas praças que elas podem fazer matérias que saiam do lugar comum. Brasília não faz só política, mas ela pode fazer uma matéria sobre bulas de remédios, por exemplo. Estamos estimulando as afiliadas para que façam isso.

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