19 de agosto de 2011

SBT faz 30 anos com o desafio de reconquistar a classe C

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O que quer a nova classe C? A resposta para esta pergunta paira como uma espécie de convidado de honra na festa de 30 anos do SBT, idade que a emissora completa nesta sexta-feira, 19. Mas, assim como na peça Esperando Godot, de Samuel Beckett, é preciso aguardar, e muito. O convidado demora a chegar e faz de sua demora o pesadelo de Silvio Santos, que nos últimos anos viu seu público migrar para a concorrente Record e sua imagem no mercado publicitário perder valor crescentemente.

A verdade é que, de fato, não há muito a comemorar. A emissora de Silvio Santos, empresário que passou de camelô a gigante das comunicações numa trajetória impressionante, completa três décadas não apenas afastada do posto que sempre se gabou de ocupar, o de vice-líder na audiência da TV aberta, mas perigando cair para o quarto lugar. A capacidade de se reinventar, inerente a Silvio Santos, foi usada contra o próprio canal, cuja grade de horário sofreu diversas mudanças capazes de cansar público e anunciantes, enquanto a base da programação permanecia a mesma, com atrações do tempo do onça, como se dizia, como
Chaves e A Praça É Nossa, sem acompanhar a transformação da classe média, que ascendia e revia seus interesses.

Há muito tempo, a TV aberta não é mais a única janela para o resto do mundo da classe C. Atualmente, o jovem dessa faixa da sociedade tem à disposição um verdadeiro vitral de fontes de informação e entretenimento. De acordo com dados do Data Popular, a maioria de jovens acima de 18 anos que acessa a internet com frequência pertence à nova classe média. A classe C representa 56% desse universo, sendo que as classes A e B são responsáveis por 24%. A maior parte dos internautas da classe C se conecta para se manter informado. Os portais de notícias encabeçam a lista dos sites favoritos de 56% dessa população. “A TV não é mais a principal fonte de informação. O jovem da classe C acredita na força de trabalho e na educação para vencer na vida, enquanto as gerações anteriores vislumbravam dias melhores através dos sorteios e jogos de auditórios praticados a exaustão pelo SBT nas últimas décadas”, diz Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular.


Diante disso, clássicos da emissora da rodovia Anhanguera como os programas Porta da Esperança e Roda a Roda, além do indefectível bordão de Silvio Santos – Quem quer dinheiro? – perderam o apelo perante o público.


Pela repetição desse tipo de atração, entre outros motivos, a emissora de Silvio Santos perdeu a chance de ser a TV da nova classe C e agora corre atrás do prejuízo. “Hoje nossa maior preocupação é entender como pensa e o que deseja a nova classe C, que tem ascendido muito e representa atualmente 100 milhões de brasileiros. Então, mais do que nunca, nós temos uma chance fantástica de consolidar nossa posição e conquistar destaque na audiência”, diz o vice-presidente do SBT, José Roberto dos Santos Maciel.


Para isso, o foco deve ser em programas que agreguem entretenimento e informação, com linguagem leve e, ao mesmo tempo, séria. “A diferença é que o jovem da nova classe C consegue viver sem televisão, por isso é muito maior o desafio de prender sua atenção”, explica Meirelles.


Dona de uma capacidade de consumo avaliada em um trilhão de reais, a nova classe média brasileira não dá mais a mínima importância para os aviões feitos de notas de dinheiro jogados por Silvio Santos às colegas de auditório. O que essa faixa populacional quer, talvez, seja não ser vista como um recorte diferenciado da sociedade, mas sim parte dela, sem distinção.

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