21 de abril de 2011

Atriz do SBT diz que novelas atuais são "chatas para caramba"

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Assim como a guerrilheira Jandira, personagem que interpreta em Amor e Revolução, do SBT, Lúcia Veríssimo garante ser "uma contestadora nata". Seu discurso não deixa dúvidas disso. Longe das novelas desde que, em 2005, encarnou a locutora de rodeios Gil de América, na Globo, a atriz critica com palavras fortes a forma como se faz teledramaturgia atualmente.

"Vou ficar contando historinha que não educa por quê? Já temos muitos problemas educacionais nesse país. Temos de ficar mais antenados, não alienados", ataca. E jura que foi justamente a densidade do tema tratado o principal motivo para assinar com a emissora de Sílvio Santos e participar do folhetim de Tiago Santiago. Ainda mais em função das próprias lembranças que tem da época em que o Brasil viveu sob o regime ditadura militar. "Minha família era muito politizada e eu estudava em um colégio que era de filhos de pais de esquerda e de artistas. Vivíamos com medo", recorda Lúcia, que nasceu em 1958.

P - Antes de Amor e Revolução estrear, muito se falava a respeito da Jandira ser baseada na Presidenta Dilma Rousseff. Você se inspirou nela?
 
R - Acho que a Jandira é mais velha do que a Dilma nessa época. Sinceramente, não a usei como referência. Peguei algumas coisas da Iara (Iavelberg, militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro, o MR-8) porque já li muito sobre ela. Na verdade, o que fazemos é um trabalho ficcional. Mas eu leio muito e vivi um pouco dessa época. Até hoje me informo sobre aquele período e as pessoas que participaram dele.

P - Durante os workshops e a preparação do elenco de Amor e Revolução, você ouviu depoimentos de pessoas que lutavam contra a ditadura e, inclusive, sofreram torturas. O que mais surpreendeu?
 
R - Sou muito ligada em cheiro. Sou capaz de perceber que uma pessoa está chegando a uns 12 metros. E, naquela época, os guerrilheiros ficavam sem tomar banho, sem se limpar. As mulheres menstruavam nessas condições e tinham de se acostumar com a falta de higiene. Isso para mim já seria uma tortura suficiente porque tomo uns quatro banhos por dia. E todos gelados, mesmo que eu esteja na neve. Foi aí que começou o meu sofrimento ao pensar nessas pessoas que viveram isso. Daí em diante, tem um mundo de situações abomináveis.

P - Você grava muitas sequências de ação na novela. Como tem sido lidar com isso?
 
R - Olha, praticamente só gravo ação ali. Mas é tranquilo. Eu sou formada em tiro, então é fácil manusear as armas. E luto boxe inglês, sou faixa roxa de judô e faixa marrom de jiu-jítsu. Não me preparo para essas cenas porque não preciso. O meu único problema é que eu bato pra valer. Nos ensaios eu vou bem, mas na hora do "gravando", acabo machucando, sem querer, os dublês. Isso é péssimo!

P - O que a fez ficar seis anos afastada das novelas?
 
R - Eu estava em busca de bons textos. Sempre tive bons personagens, mas queria novelas com assuntos relevantes. Acho que esse gênero precisa de uma reavaliação urgente. Nada está sendo feito com profundidade. Tudo é mostrado de maneira superficial, chata para caramba. Amor e Revolução quebra isso. Sinto falta de algo informativo, que promova mudanças. Tevê é para informar, não desinformar.

P - Você sente falta de atuar com mais frequência na tevê?
 
R - Não sinto falta porque estou escrevendo muito mais do que tudo. Estou fazendo o tratamento cinematográfico de Usufruto, peça de minha autoria. Pretendo filmar em 2012, no máximo em 2013. E também escrevo mais um projeto para o teatro, esse com o Ciro Barcelos, do Dzi Croquettes. Queremos trabalhar em um circuito alternativo, às quartas-feiras, e o espetáculo vai ser loucura, um arraso! Vamos trazer os anos 70 de volta, com aquela irreverência toda. E vou fazer uma personagem que nunca me viram interpretando. Pretendemos estrear ainda no primeiro semestre do ano que vem. E também me preparo para escrever um livro.

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