Uma onda de protestos sem precedentes no Egito atraiu os olhares do mundo todo. Há dias, manifestantes estão nas ruas para pedir reformas urgentes e o fim do governo de Hosni Mubarak, há 30 anos no poder.
Em entrevista ao site do SBT, o enviado da emissora Marcelo Torres conta os bastidores da cobertura da crise, fala dos desafios do trabalho da imprensa internacional no país e faz relatos da violência que tomou conta das grandes cidades egípcias.
Site SBT - Como tem sido o trabalho dos repórteres que estão aí?
Marcelo Torres - A principal dificuldade é não saber quem está contra ou a favor do governo, já que esses grupos têm atitudes opostas em relação aos jornalistas. Os que protestam para derrubar o presidente Hosni Mubarak vêem a imprensa internacional com uma certa simpatia, já que ela ecoa os atos que vêm sendo feitos por todo o país. Pelo mesmo motivo, os grupos que apoiam o governo têm raiva dos repórteres que vêm de fora (e de muitos daqui também) porque acham que Mubarak é um homem que tem história e que já foi muito humilhado. Há acusações de que muitos do grupo pró-Mubarak são policiais à paisana e seus parentes, além de militantes pagos para atuar. São acusações que eu, de forma independente, não tenho como comprovar. Soube que nesta quinta-feira jornalistas brasileiros foram expulsos do país. Também acompanhei o relato de colegas que tiveram os hotéis invadidos e que foram revistados.
Em entrevista ao site do SBT, o enviado da emissora Marcelo Torres conta os bastidores da cobertura da crise, fala dos desafios do trabalho da imprensa internacional no país e faz relatos da violência que tomou conta das grandes cidades egípcias.
Site SBT - Como tem sido o trabalho dos repórteres que estão aí?
Marcelo Torres - A principal dificuldade é não saber quem está contra ou a favor do governo, já que esses grupos têm atitudes opostas em relação aos jornalistas. Os que protestam para derrubar o presidente Hosni Mubarak vêem a imprensa internacional com uma certa simpatia, já que ela ecoa os atos que vêm sendo feitos por todo o país. Pelo mesmo motivo, os grupos que apoiam o governo têm raiva dos repórteres que vêm de fora (e de muitos daqui também) porque acham que Mubarak é um homem que tem história e que já foi muito humilhado. Há acusações de que muitos do grupo pró-Mubarak são policiais à paisana e seus parentes, além de militantes pagos para atuar. São acusações que eu, de forma independente, não tenho como comprovar. Soube que nesta quinta-feira jornalistas brasileiros foram expulsos do país. Também acompanhei o relato de colegas que tiveram os hotéis invadidos e que foram revistados.
Protestos no Egito
Site SBT - Você não sente medo de andar nas ruas, ainda mais com o toque de recolher?
MT - Depois do toque de recolher, procuro não deixar o hotel. Durante o dia, procuro ter uma atuação discreta. Vou, obviamente, aos lugares que são palco das disputas, já que preciso colher material jornalístico. Há muitos momentos de tensão, barulhos de tiros, pessoas visivelmente dispostas a tudo com pedras e pedaços de ferro nas mãos, mas tento sempre ter uma atuação discreta e uma abordagem que respeite as pessoas. Há muita gente boa também, de um lado e de outro, como já pude comprovar.
Marcelo Torres no Cairo
Site SBT - Que situação curiosa você tem notado em meio aos conflitos?
MT - Apesar da tensão diária, Cairo é uma cidade que me surpreende. Por um lado, lembra muito São Paulo, muitos viadutos, meio que uma "selva de pedras" também, mas tem ainda um certo charme dos anos 80. O Rio Nilo, que posso ver da sacada do quarto, permanece plácido e bonito como sempre esteve em tempos de guerra e de paz. E por que não admirá-lo, apesar dos pesares?
Site SBT - Como você está fazendo para comer e dormir aí no Cairo?
MT - Tudo no hotel, que está fortemente protegido.
Cinegrafista do SBT Azul Serra acompanha Marcelo Torres na cobertura
Site SBT - Que visão você tem, por não ser um egípcio, desta crise que está acompanhando de perto?
MT - Minha opinião pessoal é que o presidente Hosni Mubarak, que pode um dia ter sido herói para consolidar a independência do Egito, já deveria ter deixado o poder há muito tempo. Ele entra para a lista de figuras que, pela longevidade no poder, passaram de heróis a tiranos para boa parte da opinião pública, tal como o cubano Fidel Castro e o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe. O xadrez aqui no Egito é mais complicado, já que as posturas de Mubarak ao longo de 30 anos garantiram a paz com Israel e uma certa estabilidade num país onde há, sim, fundamentalistas religiosos. O erro talvez tenha sido apostar que só ele seria capaz de fazer isso. Gosto de acreditar que um grande líder é aquele que, para além de acreditar na sua própria virtude, trata também de construir instituições fortes, para que o país se fortaleça e não dependa de um homem só.
O correspondente Marcelo Torres também está no Twitter - @reporternomundo