A quebra fraudulenta do banco PanAmericano, de Silvio Santos, é tema de reportagem especial na revista VEJA desta semana. Leia a seguir trecho da entrevista exclusiva que o apresentador concedeu ao diretor de redação Eurípedes Alcântara, no qual ele conta como negociou o salvamento do banco e diz que, aos 80 anos, resolveu adiar os planos de aposentadoria.
O senhor quebrou? Eu não. Meu banco quebrou. A holding não foi afetada, continua muito saudável, as empresas estão bem administradas e com excelente valor de mercado.
Como o apresentador Silvio Santos soube que o empresário financeiro Silvio Santos estava em apuros? Era o dia 11 de setembro, um sábado de gravação como outro qualquer. Em um dos intervalos me entregaram um telefone celular e disseram que era urgente. Pensei nas minhas filhas. Elas estavam viajando, e fiquei preocupado. Não eram elas. Era o presidente da holding. Ah não…! Em sábado de gravação não falo sobre questões empresariais. Mandei-o ligar depois. Bem, era a questão do PanAmericano. Disseram-me que o Banco Central já estava trabalhando lá dentro fazia três semanas e que tinha sido encontrado um rombo contábil bilionário. Foi um baita susto. Como o Banco Central estava havia três semanas em meu banco e não me informam de nada? E as auditorias que davam tudo como perfeito? A Deloitte, a KPMG e os analistas do Banco Fator, que fizeram uma avaliação do PanAmericano, nada encontraram. Como acionista, eu recebo relatório mensal sobre o banco, o RGA, e não havia o menor sinalde irregularidade.
Bem, agora o senhor deve 2,5 bilhões de reais. Como vai pagar essa quantia, que é uma fortuna mesmo para seus padrões? Acho que negociei bem com o Fundo Garantidor de Créditos, o FGC. Eles queriam que eu pagasse juros sobre aquele valor. Eu disseque juros eu não pagaria. Aceitei apenas corrigir o desgaste inflacionário em cima do dinheiro. Tenho dez anos para pagar, com três anos de carência. Isso significa que a primeira parcela vence em junho de 2014. Até lá, tenho só de cobrir a inflação. É uma pancada, mas posso pagar desde que venda algumas de minhas empresas, a participação no banco…
O senhor venderia até a emissora? A televisão não vendo. Vou fazer de tudo para não vender. Mas, as demais empresas, por que não? Estou com quase 80 anos e não tenho interesse especial em bancos ou indústrias de cosméticos. Posso vender empresas e ficar com a televisão, que penso em deixar para minhas filhas que se interessam por comunicações. Uma delas, a Daniela, já mostrou que gosta de televisão.
Não é desanimador construir um império do nada e, aos 80 anos, ter de se desfazer dele para pagar dívidas? Eu estava pensando em me aposentar no ano que vem. Vou adiar o plano de aposentadoria. O problema com o banco me fez buscar energias para entender o que está acontecendo e para negociar. Não tenho por que estar abatido. Meu banco quebrou, mas não dei prejuízo a ninguém, não peguei dinheiro público, ofereci garantias de sobra pelo empréstimo e ainda tenho dez anos para pagar.
Fonte:Veja.