27 de setembro de 2010

Jorge Loredo: "Não acredito que passei por tudo isso"

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Há 50 anos, Jorge Loredo entrou em cena pela primeira vez como o Zé Bonitinho, um dos personagens mais marcantes do humor brasileiro. Os risos do auditório nesta apresentação deixaram o ator contrariado. Para ele, aquele papel seria como um drama e não uma comédia.

Foi necessário Chico Anysio conversar com o amigo para ele perceber que o que havia ocorrido era sinal de um grande sucesso. Depois desse dia, Jorge Loredo deixou de ser conhecido pelo próprio nome e passou a ser chamado de Zé Bonitinho por milhares de brasileiros.

Uma infância difícil, três casamentos e um grande sucesso. Aos 85 anos, com dois filhos e no ar em “A Praça é Nossa”, Jorge conversou com a site do SBT sobre a carreira e os planos para o futuro.

Como foi a sua infância?
Foi muito tumultuada. Eu tive uma infância e uma adolescência muito doentias. Eu tive um machucado na perna que se transformou em uma doença chamada Osteomielite, que me perseguiu até os 46 anos de idade. Isso foi bravo, mas felizmente, eu não tive reincidência.

Isso fez com que o senhor tivesse uma infância mais introvertida?
Sim. Sempre fui muito introvertido porque como eu tinha uma limitação física, ficava só observando. Eu era muito tímido. Fora da cena eu sou supertímido.

Na adolescência o senhor também teve um problema pulmonar...
Quando eu alcancei meus 18 anos, eu vim trabalhar na cidade. Eu sou do subúrbio do Rio de Janeiro, de Campo Grande, que é distante do Rio. Então, acordava muito cedo, eu me alimentava mal para chegar ao trabalho. Do trabalho eu ia para o colégio. Do colégio eu pegava o trem para voltar. Mal eu chegava em casa e já estava na hora de voltar. Isso me enfraqueceu um pouco e deu um problema pulmonar. Mas eu era bancário naquela época. O Instituto dos Bancários tinha uma assistência perfeita e fui muito bem atendido e logo me liberei do problema. Eu fumei dos 12 até os meus 80 anos. Resultado: o médico mandou eu parar de fumar para acertar a respiração e agora eu não fumo mais. Não fumo e não bebo.

E até então o senhor nunca havia pensado em ser ator?
Eu estava naquela fase do jovem que não sabe o que quer ser, então no banco em que eu trabalhava, o chefe do Departamento Pessoal disse para eu procurar um teste vocacional. O resultado foi “Magistério, diplomacia, tendência a pesquisas e atividades exibicionistas”. Eu perguntei para o psicólogo o que devia fazer. Ele disse para eu procurar uma faculdade de Direito e uma escola de Teatro. Foi o que fiz.  Eu me formei em advogado, entrei para escola de teatro e estou aqui dando esta entrevista para você.

E como foi a reação da família? Eles apoiavam a carreira de ator?
Sempre. Porque eu tenho um irmão, o João Loredo, que na minha opinião, não querendo desmerecer os outros, foi e ainda é um dos maiores diretores de televisão do Brasil. Além disso, todo mundo apoiava por uma razão muito simples: a minha mãe era costureira de circo. Eu ia entregar as roupas, talvez daí tenha ficado isso na minha cabeça.

E o senhor chegou a exercer a carreira de advogado?
Eu exerci pouco. Cheguei a ser advogado do Sindicato dos Artistas, no Rio de Janeiro, para a área de Previdência Social e Direito do Trabalho, na época em que o presidente era o Otávio Augusto, na década de 80.

E na carreira de ator, quando o humor apareceu?
Primeiro devo dizer a você que eu não sabia que eu era humorista, que eu tinha tendência para a comédia. A coisa foi surgindo naturalmente. Quando eu vi, estavam dizendo que eu era engraçado, mas eu não me achava engraçado. Foram as pessoas que descobriram e me falaram. Duas pessoas tiveram influência muito positiva na minha vida: Manoel de Nóbrega e Chico Anysio. Esses dois foram os que me seguraram e me apoiaram. Não estou desmerecendo os demais, mas eles foram os que acreditaram em mim e me deram oportunidade.

Antes do Zé Bontinho, qual outro personagem marcou para o senhor?
Eu fazia vários personagens. Não sei exatamente a data, mas o Manoel de Nóbrega levou “A Praça da Alegria” para o Rio de Janeiro. Aqui em São Paulo, o Borges de Barros, um ator, fazia o Mendigo Aristocrata. Foi todo mundo com o Manoel para o Rio, menos o Borges, porque ele era um grande dublador, tinha muitos compromissos e não podia ir para o Rio. Naquele tempo não tinha ponte aérea, nem VT... Não sei por qual razão, mas o Seu Manoel de Nóbrega pediu para que eu fizesse o Mendigo, mas com uma condição: que eu não procurasse saber como ele era feito em São Paulo e nem imitasse o rapaz. Eu tinha que ter uma criação própria. Ele me deu o roteiro e, como eu já tinha uma educação teatral, fui feliz na criação de um personagem completamente diferente do Borges. Foi através desse personagem que o pessoal da televisão passou a acreditar em mim e os outros personagens surgiram. Eu trabalhava antes na TV, mas em pequenos quadros, quem me projetou, me deu a primeira oportunidade pra valer foi  o Manoel. Aí o Chico Anysio me viu fazendo esse Mendigo e eu disse para ele que tinha um tipo que era o Zé Bonitinho.

O Mendigo brincava com o JK em cena. Como era a sua relação com o presidente?
Eu só falava nele durante a apresentação. Mas eu o conheci pessoalmente porque no meu segundo casamento, ele foi o padrinho da minha noiva. E ele e a D. Sarah (Kubitschek). Minha esposa naquela época era primeira bailarina do Teatro Municipal, e sempre fazia concertos de balé para a D. Sarah. O meu padrinho de casamento foi o Manoel de Nóbrega e a esposa dele.

Voltando a falar no Zé Bonitinho, como ele surgiu?
Ele apareceu imitando um amigo meu da adolescência. Evidentemente, exagerei nos óculos, no pente... O personagem foi surgindo, mas o nome dele era “Bárbaro”. Eu descobri “Zé Bonitinho” ao ver um garçom numa churrascaria em que eu estava reclamando da comida. O garçom disse que ia chamar o cozinheiro que era muito metido a bobo e ele disse “Zé Bonitinho, vem cá”. Quando o cozinheiro chegou, era um cara horrivelmente feio, com um dente só na frente. Comecei a rir e surgiu o apelido de Zé Bonitinho.

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