Com o sucesso de O Mentalista, a nova série do SBT, Simon Baker tem Hollywood a seus pés. Mas em meio a tanto sucesso, uma coisa já preocupa o ator: “Será que em algum momento vou conseguir apertar o botão pra desligar isso tudo?”, questiona o galã em entrevista ao site do SBT. Para alguém que se define com um eterno teimoso e perfeccionista, foi graças a essas qualidades que conquistou o público de forma tão rápida. E exatamente por isso, parece que a aposentadoria e o anonimato estão ficando cada vez mais distantes.
Confira agora a entrevista completa com Simon Baker.
Na primeira vez que você leu o roteiro, você entendeu de imediato e gostou da essência da história? Pergunto porque muitos executivos não captaram a idéia.
O personagem que eles leram na descrição não é o personagem que interpreto. É claro que há alguns elementos, mas sempre que aceito um projeto, quero estar bem mais envolvido no sentido de ajudar a criar o personagem. Mas naquela época, nem nós o conhecíamos por completo, e sinto como se meu trabalho também fosse interpretá-lo para os outros, mostrar como ele vive e respira, o que ele acha engraçado e o que está pensando quando diz uma frase qualquer do texto.
E adoro encontrar um personagem que não está bem desenvolvido, porque isso me dá várias oportunidades para criar. A melhor parte do meu trabalho com o Bruno [Bruno Heller, o criador da série], é que ele me permite explorar. Ele escreve ótimas situações para colocar o personagem, e agora que nós dois já o conhecemos bem, eu contribuo bastante.
Você aprendeu alguma coisa com o personagem?
Aprendi sim. Aprendi como mentir muito bem (risos). Sério! Hoje, minto como profissão!
Ao interpretar O Mentalista, você sente a pressão como se fosse um homem carregando o programa nas costas ou é no fundo uma grande sensação de liberdade?
Essa é uma boa pergunta... Acho que os dois. É uma grande liberdade criativa quando o Bruno e eu conversamos sobre algo. Estou numa posição em que posso dizer “isto não está funcionando” ou “isso é certo” ou que eu gostaria de tentar isso. Eu tenho essa liberdade. Mas isso é realmente só por causa da confiança entre mim e o Bruno. Mas há uma pressão? Claro! Esse é um negócio de gente grande.
Então o que você está dizendo é que só quer seguir em frente com o trabalho?
É, só quero continuar. Eu sou um cara criativo. As pessoas querem falar sobre o meu cabelo todo dia. Bem, eles podem falar sobre o meu cabelo todos os dias, mas eu vou seguir em frente. É só um cabelo! (risos)
O Patrick mudou tanto desde o início da série... Ainda há mais para aprender? Ou existem outras faces que ainda vamos ver?
Pode ser. Acho que sim...
Foto: Divulgação/WB
Como você trabalhou a evolução do personagem? Como ele é único na televisão, não sei se você encontraria alguém assim... Há pessoas que fazem essas coisas?
Olha, eu sempre gosto de interpretar de uma maneira diferente de como acho que todo mundo iria interpretar. É a minha natureza. Sou o garoto rebelde. É quem eu sou. Se as pessoas te dizem pra não tocar em algo, logo que eu chegar eu vou tocar. Na verdade, foda-se, eu vou tocar agora mesmo. É isso o que vai acontecer, eu não posso evitar.
A sorte foi que o Bruno entrou nessa também. Sou quase como o anti-herói americano. Eu não gosto de armas. Então vamos fazer o oposto. Todas as outras séries são só policiais. Muitas armas, uma espécie de pornografia policial. Eles puxam as armas, tiram as lanternas, se agacham e fazem flexões... Eu gosto da natureza imprevisível dele. Esta é a natureza humana.
Uma tendência atual é que muitas séries estão tentando se afastar da imagem de drama e crime em excesso. O Mentalista parece estar à frente da curva. É o charme da série?
Eu acho que se trata de um equilíbrio. Isso é bem interessante, porque o que acontece é que quando você tem um ano onde um programa é um sucesso absoluto, em seguida, todos os próximos pilotos são meio que derivados do conceito inicial, e mais nada. Sinto muito, mas um conceito sozinho não vende a idéia. O público é muito habilidoso, então tudo tem que ser uma combinação. É por isso que é tão difícil apontar o dedo e explicar porquê esta série é tão bem sucedida. É uma combinação do conceito com o elenco, com o tom do roteiro... Há tantas coisas diferentes! E tudo também depende do contexto e da psiquê do público.
Você teve uma festa e tanto de aniversário no ano passado. Como você se sente com isso tudo? E você acha que estaria preparado para este tipo de sucesso se fosse um pouco mais jovem?
Não!
Por que não?
Porque eu era um pouco selvagem. Eu não me cansava tão facilmente quando eu era mais jovem. Mas na verdade eu não sei... Quem sabe? Pelo fato de que sou um ator e que posso fazer o que eu amo, e que pude viver disso nos últimos 20 anos, acho que sempre fui bem-sucedido nesse sentido. Mas quando você fala sobre níveis de sucesso, o sucesso do dia pra noite - que é como quando uma série de repente está presente em vários países, e todo mundo está assistindo - isso realmente acontece do dia pra noite. E isso é um pouco estranho. Eu ainda sou um cara normal e tudo o que quero é fazer a minha parte.
Foto: Divulgação/WB
Qual foi a sua reação quando você percebeu que tinha atingido esse nível de sucesso? Qual foi sua primeira reação, o seu primeiro pensamento?
Será que em algum momento vou conseguir apertar o botão pra desligar isso tudo? Vai chegar uma hora em que vou querer desaparecer, meio que entrar no buraco do coelho, sem que ninguém nunca mais ouça falar de mim, nem que fui o Mentalista.
Essa foi a primeira coisa que você pensou?
Não exatamente, mas ainda quero um dia desaparecer na obscuridade. Quero envelhecer de forma graciosa. Não que esta tenha sido necessariamente a minha atitude inicial.
Então você não respondeu à pergunta...
Talvez não. (risos)