26 de março de 2010

Produtores contam como foi acompanhar a ação de pichadores nas ruas de São Paulo

Arte ou vandalismo? Até mesmo para os pichadores há dúvidas, imagine para quem recebe a incumbência de acompanhá-los e desvendar o que está por trás da pichação.

O primeiro passo foi não julgar quem faz e, principalmente, do que se trata. Depois, achar algum grupo que aceitasse ter toda a ação registrada por uma câmera. Isso desde o encontro, os bastidores da organização, até ir às ruas, em busca de espaços em branco para receber o que chamam de "assinaturas".
A produção foi dividida em duas: um produtor foi atrás de um grupo; o outro, em busca de fazer contato com um ex-pichador, conhecido como Cripta Djan, que tem como ganha pão a venda de documentários amadores sobre a ação dos amigos pichadores. Tudo acertado! Nosso rumo foi participar do encontro da tribo, no centro de São Paulo.

Sem medo de mostrar o rosto, eles falaram abertamente sobre o que fazem. Ali se misturam os que podemos tachar de pichadores do bem e os despreocupados, usuários de drogas e bebidas, afim de pichar, independentemente do local.

Na rua, escura, abarrotada de jovens e suas latinhas, descobrimos que há muitos códigos entre eles, incompreensíveis para quem é de fora do meio.

Em questão de minutos, antes mesmo da meia-noite de um dia de semana, os grupos começaram a se dividir conforme as “marcas” - o de Djan, por exemplo, é Cripta. Logo, percebemos um movimento e começamos a correr atrás de um grupo que seguia ainda pelo centro. Uma parte dos pichadores andava na frente, outra fazia a fiscalização um pouco mais atrás - dando guarda. Em segundos, observamos dois rapazes em cima de um prédio. Como gatos, levaram segundos para escalar o edifício, e começaram a pichar. Nas ruas, todos observavam, o que levou a polícia a chegar em questão de minutos. Dois rapazes desapareceram dentro do prédio abandonado. Um menor foi levado à delegacia e liberado menos de duas horas depois. Nós, apenas registramos tudo.

Enquanto isso, outra equipe descobre que um grupo vai agir na zona norte da capital paulista. Mais um prédio escalado. Nós, de longe, acompanhávamos cada passo. Inclusive o susto: um morador que teria a fachada do seu apartamento “manchado” abre a janela e empurra, do alto de 6 metros, o pichador. Por sorte, fraturas leves.

Descobrimos que alguns grupos admitem a pichação como vandalismo. Outros a fazem com a argumentação de protesto.

Em nossa produção, encontramos poucos pichadores que assumem pichar em muros brancos de casas aleatoriamente. A maioria explica que são lugares estratégicos, sem o intuito de sujar qualquer que seja o muro.

Em meio às discussões, nossa tarefa é achar mulheres pichadoras. Aliás, um grupo já conhecido nos pontos altos da cidade: As Minas. Depois de muitos contatos localizamos uma das pichadoras. Marcamos nossa reunião em um dia à noite e lá estavam duas das três “minas”. Unhas feitas, arrumadas, calça agarrada ao corpo. Partimos então para acompanhá-las “em um pico”. Mesmo de salto, “as minas” pegam a lata de spray e... picham!

Ex-pichador que ficou paraplégico. Pichadores “surfando” em cima do trem até topar com o fio de eletricidade. Grafitar, a arte urbana que se destaca no mundo. Cada um com sua história, em meio a imagens surpreendentes.

Enfim, o ponto de vista do lado de quem picha, a gente já tinha. Procuramos então a Justiça, para saber qual o tipo de crime. Uma arte – ou vandalismo – que pode render até cadeia.

Anuncio