por Revista Veja
No dia 12 de dezembro de 2010, Silvio Santos, o dono do SBT, completará 80 anos. Vai ganhar um filme sobre sua vida – e o tom da obra estará em algum ponto entre o épico e o dramático. A obra está nas mãos do produtor artístico Carlos Augusto de Oliveira – irmão de José Bonifácio de Oliveria Sobrinho, o Boni, ex-diretor-geral da Rede Globo. Guga de Oliveira, como Carlos Augusto é conhecido, garante que já recebeu consentimento verbal para o roteiro de 400 páginas, que vai contar como um camelô se tornou um dos mais bem-sucedidos homens de negócios e entretenimento do país. Mas ainda aguarda a aprovação formal para as filmagens. O longa será baseado no livro A Fantástica História de Silvio Santos, do jornalista Arlindo Silva. Porém, deve se deter a trechos menos conhecidos da biografia. “Vou dar prioridade às amizades de Silvio com os intelectuais da Lapa antiga, no Rio, e a detalhes sobre a perda da primeira esposa, Cidinha”, adianta o diretor.
Como surgiu a ideia de realizar um filme sobre o Silvio Santos?
Decidi fazer o filme logo após ler o livro do jornalista Arlindo Silva. Em uma viagem de negócios à Rede Globo, comprei o livro no aeroporto, e foi ele que distraiu o meu medo de avião. Logo achei que daria um belo roteiro de cinema e comprei os direitos autorais da obra. É uma forma de prestar homenagem ao Silvio, além de ser uma oportunidade comercial muito interessante. Na história do cinema brasileiro, as biografias realizadas não foram muito felizes, a exemplo de Mauá O Imperador e o Rei (1999) e Villa Lobos, Uma Vida de Paixão (2000). Em contraposição, a filmografia americana tem produções maravilhosas, como Lawrence da Arábia (1962), Gandhi (1982), entre outros filmes sobre personagens históricos. O Silvio se põe nesse hall porque tem uma história comovente: um menino pobre, vindo de uma família de imigrantes, que se tornou vitorioso, dono de uma rede de comunicação.
O projeto do longa é antigo. Por que o senhor decidiu levá-lo adiante agora?
Conversei com o Silvio na época sobre a ideia, e ele disse que, se eu mesmo tocasse o projeto, não haveria nenhuma restrição. Ele conhece bem o meu trabalho, pois já produzi programas e especiais para o SBT, como a série Joana (1991) e a novela Cortina de Vidro (1991). Mas o projeto acabou ficando parado durante alguns anos, pois não se sabia os rumos que a relação entre o Silvio e a televisão iria tomar. Com a perspectiva biográfica de ele completar 80 anos, voltei ao assunto, e o Silvio foi muito receptivo. Ele leu o roteiro – um calhamaço de 400 páginas, todo detalhado – e respondeu, com simpatia, que tinha confiança no meu trabalho. Temos uma relação muito boa, e ele sabe do meu profissionalismo moral e ético. Jamais iria dizer que ele é careca, por exemplo – o que, na verdade, ele não é.
O que falta para o longa começar a ser rodado?
Como será um filme caro [o orçamento previsto é 10 milhões de reais], vamos precisar de um aporte financeiro expressivo. Isso significa contar com o apoio de distribuidoras internacionais, como a Universal e a Fox. Essas empresas exigem um documento formal que prove que Silvio Santos está ciente do filme e concorda com sua produção. Já enviei o material ao departamento jurídico da empresa dele: tudo o que falta é a assinatura. Gostaria de ter o filme pronto para ser lançado no fim do ano que vem. Para que isso ocorra, preciso desse posicionamento até o final de 2009. Como teremos locações internacionais, na Grécia, França e Estados Unidos, precisamos programar tudo com antecedência. Mas acredito, pelo entusiasmo dele, que o documento estará assinado na próxima semana.
E o elenco, já foi contatado?
O elenco precisa ser montado em função do cronograma de filmagem. Então, ainda dependo da assinatura do Silvio. Há dois anos, sondei Edson Celulari para o protagonista adulto. Na época, ele aceitou, mas ainda preciso confirmar a agenda dele para o ano que vem – se já estará em outro filme, novela ou teatro. Além do Edson, penso na Ivete Sangalo para interpretar a Marlene, rainha do rádio. A Hebe Camargo fará o papel dela própria, Carlos Alberto da Nóbrega vai fazer o pai dele, Manoel da Nóbrega, o filho do Chico Anísio, Bruno Mazzeo, pediu para interpretar o pai [Chico e Silvio disputavam um lugar na rádio quando tinham 20 anos - e Silvio foi o vencedor]. Para criar uma expectativa maior em torno do filme, pensei em realizar testes com atores mirins para o papel de Silvio garoto. Seria um plano de marketing interativo, em que o público votaria no melhor ator.
No livro, a história de Silvio Santos é entremeada por fatos históricos. Como será no filme?
O foco é a biografia do Silvio, mas o pano de fundo será a história do país nos últimos 80 anos – citando a era de ouro do rádio e o nascimento da televisão. Sendo assim, vou reconstruir cenários, como o Cassino da Urca, por exemplo. Mas o filme começa com um flashback biográfico: o pai de Silvio na Grécia, na época em que era jornaleiro; sua ida a Marselha (França), onde trabalhou como camelô; sua vinda para o Brasil, onde montou uma lojinha na Lapa do Rio, no finalzinho dos anos 1920.
O filme traça a trajetória do apresentador até os dias atuais?
Ele chega aos dias atuais, mas de maneira simplificada. Pelo menos 80% do filme vai se deter à infância e juventude do protagonista e ao Silvio empreendedor, antes de se tornar um grande empresário de sucesso. Dali pra frente, todo mundo já conhece a história. Vou dar prioridade a outros assuntos de que pouca gente sabe, como as amizades de Silvio com os intelectuais da Lapa antiga do Rio e detalhes sobre a perda da primeira esposa, Cidinha, em Nova York. O livro se prende muito a dados estatísticos e é muito preciso. Esses dados vão dar embasamento ao filme, mas a linguagem cinematográfica é outra. Pretendo transformar essas informações jornalísticas em uma história com mais emoção. Ainda vou reescrever o final, mas devo terminar com Silvio completando 80 anos de idade.