6 de julho de 2009

Entrevista polêmica de Vicente Sesso, novo autor do SBT ao OFuxico

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Após quase um ano e meio de negociações com o SBT, Vicente Sesso vendeu os direitos autorais das novelas Uma Rosa com Amor e Minha Doce Namorada, sucessos da década de 70. O dramaturgo conta que só assinou contrato quando Silvio Santos aceitou uma cláusula importante: somente ele (Sesso) poderia reescrever suas histórias.

“Não sabia do interesse da Íris Abravanel em adaptar sucessos antigos e disse ao Silvio que ninguém mais destruiria minhas novelas, como aconteceu com Sangue do Meu Sangue, produzida pelo SBT, em 1995”, disse Sesso a O Fuxico.
Nesta entrevista polêmica, o autor critica os novelistas brasileiros, avalia a responsabilidade de Íris Abravanel em adaptar textos de Janete Clair, provoca a Globo e o próprio Silvio Santos. Confira!

O Fuxico: As negociações com o SBT – que adquiriu os direitos autorais das suas novelas Uma Rosa com Amor e Minha Doce Namorada – demoraram muito. Não entravam em um acordo financeiro?
Vicente Sesso: Essa questão nunca foi prioridade em minha vida profissional. Já trabalhei de graça, como em Cara a Cara, que escrevi para a Band. Gostei da proposta, por saber que abriria mercado de trabalho com mais um horário de novela. Mas, quando ele me disse que meu texto seria adaptado por outra pessoa, encerrei as negociações.

OF: Você não sabia que a Íris Abravanel, mulher do Silvio Santos, buscava sucessos para adaptar?
VS: Nem imaginava! Ele não comentou nada sobre ela. Como somos amigos pessoais, eu disse ao Silvio que ninguém destruiria minhas novelas, como aconteceu com Sangue do Meu Sangue, produzida pelo SBT, em 1995. Na época, eu exigi assumir o comando do texto e subi a audiência, que estava péssima. Infelizmente, o mercado é mal servido de novelistas.

OF: Diz isso em relação aos seus colegas de época?
VS: Os bons já morreram ou estão a caminho. As novelas são repetitivas demais, tudo é muito fraco, sem conteúdo. Quem acerta, é porque copiou tramas do passado e não por criatividade. Mas, essas pessoas deveriam seguir fielmente o texto original, por questão de inteligência e respeito.

OF: Íris Abravanel criou algumas tramas paralelas, para aumentar Vende-se Um Véu de Noiva, de Janete Clair.
VS: Acho isso um perigo. Ainda mais em se tratando de uma adaptação de novela de rádio. Se a Janete, que era uma especialista, fez a história enxuta, é porque não cabia aumentá-la. A Íris precisa pensar como a Janete, tentar encontrar saídas parecidas com as que ela já usou. Será uma árdua tarefa.

OF: Você prestigia os trabalhos dos seus colegas?
VS: Quase não vejo tevê. Sou crítico até comigo, me irrito demais quando o texto é ruim. Há pouco tempo, vi uma cópia de uma novela da Ivani Ribeiro, minha amiga, e me chateei muito. Depois, assisti a outra com um núcleo de homens quase pelados, um horror!

OF: O que achou da Record lançar Mutantes, trama de Tiago Santiago, que aposta em realismo fantástico?
VS: A imprensa criticou demais essa novela, mas foi uma tentativa de mudança. E parte do público aprovou. O núcleo de teledramaturgia dessa emissora é novo, precisa crescer e melhorar muito ainda. Mas, gosto de saber que a concorrência não deixará mais a Globo impor seu ponto de vista nesse campo.
OF: Você tem mágoa da Globo?

VS: Sou uma pessoa polêmica e pago um alto preço por isso. Nas reuniões de autores da Globo, eu falava para o Boni o que realmente pensava sobre a baixa qualidade dos textos, que garanto: podem, sim, destruir a carreira de qualquer ator. Os novelistas deveriam ser pessoas mais responsáveis. Eu só sobrevivi dentro da Globo, porque o que faço realmente dá audiência. Não foi à-toa que o Silvio Santos me chamou.

OF: Acredita que o SBT pode fazer novelas mais competitivas?
VS: Sim. Nos anos 90, ele tinha um elenco de primeira e boa estrutura. Mas, por não tirar as novelas mexicanas da cabeça, o Silvio desistiu de investir em produto nacional. Noto que a mulher dele é esclarecida, atualizada e promete impulsionar a emissora.

OF: E, mesmo assim, você não a deixa adaptar suas novelas.
VS: Não. Eu faço questão de escrever, escalar o elenco, palpitar na direção… Já atuei, dirigi e sei bem do que falo.

OF: Nos anos 70, você decidiu a investir na carreira internacional. O que o levou a tomar essa decisão?
VS: Já conhecia bem o povo brasileiro, seus gostos e expectativas. Queria inovar e não podia. Aprendi que, quando você passa mais de quatro anos em uma empresa, passa a ser considerado móveis e utensílios da empresa.

OF: As novelas Deus lhe Pague, Verônica e Desengano de Amor conquistaram o mercado na Argentina, Peru, México, Itália e EUA. Você ganhou mais dinheiro no exterior que no Brasil?
VS: Não falo sobre isso. Mas, garanto que no Brasil os novelistas são mal remunerados. Ganha-se no máximo R$ 100 mil e perde-se quase a metade, com encargos e impostos. Isso não chega a 10% do que se ganha em Hollywood.

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